Já passam das duas. Ouço o barulho do vento passando pela janela semiaberta da sala. Tento rabiscar em vão algumas palavras soltas que passam aleatoriamente pela minha cabeça. O ponteiro do relógio dita o ritmo das minhas pálpebras. Apesar do peso dos olhos, custo a ir para cama, permaneço folheando as páginas do Borges que há dias me acompanha no caminho entre a casa e o trabalho. Procuro um lugar onde eu possa me reconhecer, no instante de luz que cruzou seus olhos naquela manhã, num fim de tarde de memórias compartilhadas, na noite que cai lentamente enquanto você dorme. Sigo tateando na escuridão quase absoluta, uma parte de mim que não consigo sequer compreender. Aqui, sozinho, sem testemunhas ouvindo o vento uivar lá fora.
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