O dia estava quente embora fosse inverno. Sentei-me cansado no banco do ônibus, a cabeça cheia de ocupações que estavam muito longe dali. O congestionamento geral pelas ruas e avenidas amplificavam a sensação de marasmo em que corria o tempo. Nas ruas pessoas corriam de lá para cá e daqui para lá também com suas cabeças cheias de ocupações. Uma senhora adentrou o coletivo e sentou-se ao meu lado aumentando o calor já insuportável. Fechei a cara, fingi ler o jornal aliás, esta tática é minha especialidade. E justo o assunto da página que eu lia foi o pretexto para que ela puxasse conversa comigo. Começamos falando de futebol mas algo me dizia que aquilo era apenas para se aproximar de mim. Mais um semáforo fechado e o assunto avançava naquela altura com certa descontração. Decidi me "desarmar" e dar atenção àquela velha senhora que se dispusera a conversar comigo, pensei também que um papo ajudaria o tempo a correr mais rápido. Foi então que da futilidade da discussão futebolística aquela mulher quase que naturalmente contou-me do falecido marido e do episódio de sua partida. Cada palavra trazia aos seus olhos a lembrança viva daquele homem cujo coração não suportara a idade. Contou-me do impacto que a morte teva à família contabilizando acidente de carro do filho e a internação de uma neta por estado de choque. Contando-me como tamanha é a dor da partida de alguém que amamos. Decidi apenas ouvir intervir o mínimo possível e deixar aquela alma trazer de volta algo que trazia no seu íntimo e que resolvera compartilhar com um estranho como eu. E foram longos os minutos no relógio porém mesmo mergulhado em tantas preocupações naquele momento senti-me mais humano.
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