Memórias de um ancião

O dia era frio e uma fina garoa caía sobre o velho casebre consumido por muitos ventos e tempestades e também cupins. A vida do velho ancião também fora consumida pelos anos de sua vida de sofrimentos e reflexões. A vida é sempre um retorno à solidão. Aquele velho vivia agora esquecido e solitário, acomodado em sua velha cadeira frente à antiga janela de onde vira crescer e florir muitas primaveras e acompanhado o florescer de muitos jovens. Não fora como os demais. Desde criança não era como os outros. Sua melhor companhia eram os diários e sua consciência. Não teve muitos amigos nem amores. Passou sua vida em busca de um caminho que lhe desse sentido à existência. Apegou-se as letras e a Filosofia. Viajou e conheceu boa parte do mundo apenas com a leitura. Uma vida de reflexão não pode ser como as outras. Nunca encontrou um caminho comum quase sempre esteve só envolto em seus pensamentos. Foi compositor dos dramas e alegrias de suas experiências. Não deixou filhos, nem mesmo alguém que poderia sofrer com sua falta. Apenas permaneceu impassível e constante. Nunca deixou de ser o que sempre foi. O frio deste dia convida o velho ancião ao encontro de uma nova existência um passo além na escala de uma vida de contemplações. Agora ele pode conhecer o verdadeiro Bem e superar os limites desta realidade material. Ele acredita em Deus e anseia pelo encontro com Ele. E a vida que para muitos é sem sentido, que superou falsas expectativas, que venceu a ilusão daquilo que acreditamos ser eterno, enfim encontra a verdadeira razão e os olhos dele se fecham mas as janelas de sua alma se abrem a verdadeira felicidade. Adeus velho ancião, encontraste o que custo a entender...

Pessoas sempre mudam
Nunca são as mesmas
há sempre um porquê
Para não querer mais ser
Enquanto busco uma razão
Um motivo pra seguir
Encontraste velho amigo
O sentido do viver
Nunca esperou por ninguém
Encontrou tudo sempre em si
O que muitos esperam
Sem nem mesmo entender

E assim se faz a vida

quando Deus é o último fim