quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Me ouça


"Eu preciso de um pouco de ar", foi a frase que proferi após longos minutos de silêncio. O dias daquele verão foram excessivamente quentes, mas um suor frio que correu-me pelo corpo e fez-me alheio à elevada temperatura.
Ela, parada, suspirou impaciente vendo-me distanciar após aguardar pelas palavras que não vieram. Passou as mãos em seus cabelos e olhou atenciosamente os ponteiros do relógio, ampliando sua sensação de angústia.
Passaram-se alguns minutos, repletos de profundo silêncio. Os dois corações podiam ser ouvidos tal como quando se sente aquele nó na garganta.
Ele retornou, trêmulo, vacilante porém decidido. Ela, buscando mostrar-se indiferente, lhe questionou: "O que querias me dizer?" Então ele olhou ao redor, recolheu o resto de coragem que tinha e murmurou: "Por favor, me ouça há coisas que são ditas apenas uma vez e preciso te dizer o que sinto".
Um forte clarão acompanhado de um solavanco apagaram sorreteiramente a imagem da minha mente. Eram quase 6h. "Me ouça" dizia a canção no rádio relógio. As frases tão vivas daquele sonho foram se perdendo como éter que se evapora rapidamente no ar em meio as palavras de mamãe que alertava-me: "Você não pode esquecer de pagar as contas hoje, arrumar seu quarto e levar o cachorro ao veterinário! E levanta logo senão perde a hora da faculdade!"
"Já vou mãe", murmurei enterrando a cabeça no travesseiro novamente antes de levantar...

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